HYARA FLOR: MORTE É INVESTIGADA COMO FEMINICÍDIO
No domingo (04), a escritora Glória Perez que teve a sua filha morta nos anos 90 por feminicídio — um crime que ainda não existia nome, compartilhou um vídeo do assassinato da Cigana Hyara Flor, em sua rede social com mais de um milhão de seguidores.
O vídeo mostra a foto do casamento da cigana com Amadeus, ambos com 14 anos, e o áudio do pai da nubente, num momento de fúria solicitando o genro fugitivo acusado de atirar a queima-roupa no pescoço dela. A autora comenta que se solidariza com o Sr Iago, pai da noiva, “Não há quem não se comova e consiga entender o seu desespero.” — reafirma sua fala há trinta anos, desde a morte de Daniela Perez.
Após a publicação de Glória, a notícia se espalhou pelas redes sociais e chamou a atenção de muitos portais de comunicação do país como Uol e Terra, além dos regionais como o Blog Verdinho Itabuna.
Iago, pai de Hyara, precisou se retratar e alega que sua fala foi momentânea e cheia de dor. Ele conta como a rede de apoio da internet se solidarizou com a fatalidade e alega ter sido enganado pela família do noivo. O irmão de Iago teve um caso com a mãe de Amadeus e nos costumes ciganos a fuga entre casais gera discórdia, porém a família de Iago havia ‘esquecido’ o fato.
Hyara acreditava na melhora das relações familiares após o casamento, porém havia indícios que a filha era humilhada e apanhada pelo esposo, com o consentimento da avó do noivo. Ela ainda tentou contar o que acontecia, mas não deu tempo. O pai reafirma que o pedido de casamento foi motivado por vingança, pois na tradição secular cigana, as meninas são prometidas em casamento e os acertos são feitos por seus pais, na decisão de unir as famílias.
Iago que gastou 25 mil no noivado e a realização do casório foi um ano após, com festejos abundantes e duração de três dias, mas o casamento durou menos de dois meses. A rede social se mobiliza por justiça prestando apoio e divulgação do caso.
Como vivem os povos ciganos:
Saídos da Índia para a Europa há mais de 1.500 anos se espalharam por todo o planeta, chegando ao Brasil por volta de 1572. A etnia cigana, uma comunidade fechada, é visto como pessoas que não se fazem inserir nas comunidades em que vivem. Apesar da dimensão e dispersão do povoado, alguns costumes conseguiram resistir ao passar do tempo.
- A leitura da mão — as ciganas que se oferecem para fazer a leitura da mão, desta forma adivinhando a linha da vida, dizem que se for curta, é sinal de que é uma pessoa facilmente manipulável pelos outros.
- O casamento — para os ciganos, é uma honra casar os filhos conforme a tradição do seu povo. A partir dos 14 anos, é comum que os jovens comecem a se relacionar às escondidas dos pais, quando são descobertos, os pais do noivo se encontram com os pais da noiva para o filho lhes pedir a mão da sua apaixonada em casamento. A festa, que chega a reunir mais de 500 convidados, dura habitualmente vários dias. A importância do dote é fundamental, tem grupo que realiza o casamento através da fuga.
- O ritual do lenço — para atestar a virgindade da noiva, é normal recorrer a uma das mulheres mais idosas e respeitadas da tribo para fazer o teste do lenço ou do lençol, uma exibição pública da mancha de sangue provocada pelo rompimento do hímen durante a primeira relação sexual.
- O respeito pelos mais velhos — na comunidade cigana, a idade é um posto. Como são os mais velhos que transmitem o conhecimento e a sabedoria, são respeitados pela sua experiência de vida. Em muitas das disputas e litígios entre membros do povo cigano, é habitual recorrerem a uma pessoa mais velha para dirimir o conflito.
- A música, a dança e o canto — inseparável das raízes e da cultura do povo cigano.
- Morte — o luto pelo desaparecimento de um companheiro dura em geral muito tempo, alguns queimam a kampína (o trailer) e os objetos pertencentes ao defunto.
- Fatos — tem famílias que são menos conservadores e tendem a esquecer com maior rapidez a cultura dos pais, e outras, uma maior tendência à conservação das tradições, da língua e dos costumes próprios dos diversos subgrupos.
São um povoado estigmatizado e visto com preconceito pelos não ciganos ou como a sua tradição diz gadgés — é como eles chamam os não-ciganos — e se identificam como Rom, Calon ou Sinti. Ainda não existe no país uma legislação reconhecendo o povoado e seus costumes, mas em tramitação entre Senado e Câmara há um projeto de Lei.
Para garantir aos ‘Ciganos’ a efetiva inclusão social, política e econômica, e a defesa dos seus direitos étnicos individuais sem discriminação, foi sugerida a criação da Lei. “Os ciganos continuam excluídos sob vários aspectos, sujeitos a preconceito, discriminação e incompreensão com relação à cultura e organização social”, afirma o senador Paulo Paim, autor da proposta.
Desde 2015 tramitando entre uma casa e outra o projeto de lei nominado Estatuto dos Povos Ciganos que visa a inclusão social política e econômica. A PL 1387/2022 — que ainda se encontra parada na Câmara de deputados desde maio de 2022, denominando “povo cigano” pessoas de origem e ascendência cigana que se identificam como pertencentes a um grupo étnico cujas características culturais são distintas na sociedade nacional.
Fontes: Agência Câmara de Notícias, Uol, Terra, redes sociais diversas